Classificação das influências externas

Este artigo vai te ajudar a entender por que um projeto de instalações elétricas não deve se iniciar pela marcação de pontos de utilização em uma planta de arquitetura, bem como aspectos importantes e decisivos na especificação de um componente elétrico.

(janeiro / 2011)

Este artigo aborda assunto pouco considerado nos projetos de instalações elétricas, mas que tem influência direta, por exemplo, na especificação dos componentes, na escolha das linhas elétricas e nas medidas de proteção contra choques elétricos.

A omissão da análise das influências externas nos diversos ambientes de um empreendimento pode colocar em risco a segurança das pessoas e da edificação e a integridade de alguns componentes da instalação elétrica.

Inicialmente, cabe esclarecer que o termo “influência externa” não se refere apenas às condições “climáticas do ambiente exterior”, mas sim, às diversas condições a que estão submetidos os componentes da instalação, incluindo sua própria utilização e as características construtivas das edificações. 

A norma NBR 5410 prescreve em 4.2.6 – Esta subseção estabelece uma classificação e uma codificação das influências externas que devem ser consideradas na concepção e na execução das instalações elétricas. Cada condição de influência externa é designada por um código que compreende sempre um grupo de duas letras maiúsculas e um número, como descrito a seguir:

a) a primeira letra indica a categoria geral da influência externa:
– A = meio ambiente;
– B = utilização;
– C = construção das edificações

b) a segunda letra (A, B, C, …) indica a natureza da influência externa;

c) o número (1, 2, 3, …) indica a classe de cada influência externa.

As influências externas consideradas nessa norma compreendem 22 grupos, com 113 níveis de classificação, divididos da seguinte forma:

– Temperatura ambiente (AA) – 8 níveis
– Condições climáticas do ambiente (AB) – 8 níveis
– Altitude (AC) – 2 níveis
– Presença de água (AD) – 8 níveis
– Presença de corpos sólidos (AE) – 6 níveis
– Presença de substâncias corrosivas ou poluentes (AF) – 4 níveis
– Solicitações mecânicas – impactos (AG) – 3 níveis
– Solicitações mecânicas – vibrações (AH) – 3 níveis
– Presença de flora e mofo (AK) – 2 níveis
– Presença de fauna (AL) – 2 níveis
– Influências eletromagnéticas, eletrostáticas ou ionizantes (AM) – 36 níveis
– Radiação solar (AN) – 3 níveis
– Descargas atmosféricas (AQ) – 3 níveis
– Movimentação do ar (AR) – 3 níveis
– Vento (AS) – 3 níveis
– Competência das pessoas (BA) – 5 níveis
– Resistência elétrica do corpo humano (BB) – 4 níveis
– Contato das pessoas com o potencial da terra (BC) – 4 níveis
– Condições de fuga das pessoas em emergências (BD) – 4 níveis
– Natureza dos materiais processados ou armazenados (BE) – 4 níveis
– Materiais de construção (CA) – 2 níveis
– Estrutura das edificações (CB) – 4 níveis

Para entender a aplicação dessa classificação e suas implicações, tomemos como exemplo uma área ajardinada de um condomínio residencial. Considerando apenas as condições AD (presença de água) e AE (presença de corpos sólidos), como ficaria a identificação dessas duas influências externas?

Utilizando as tabelas 4 e 5 da NBR 5410 (reproduzidas parcialmente neste artigo, como tabelas 1 e 2 respectivamente), o projetista pode optar por adotar o código AD4, levando em conta que nesse jardim existe a possibilidade de presença de chuva de qualquer direção. Se ainda considerar que a edificação está em um centro urbano, com presença apenas da costumeira poeira das cidades, ele poderá optar pelo código AE4, para o caso de presença de corpos sólidos.

Desta forma, neste caso, a classificação dessa área ajardinada, para apenas essas duas condições de influências externas, será: AD4 e AE4. Valendo-se da própria NBR 5410 e da NBR IEC 60529, conclui-se que os componentes a serem instalados nesse local devem possuir, no mínimo, grau de proteção IP54. Esta característica deve constar da especificação técnica dos componentes no memorial descritivo de projeto e nas requisições de compra. É item de verificação em análises de projeto e nas inspeções de instalações.

Algumas dessas influências externas, como por exemplo, AF, AH, AN, BD, BE, podem impedir a utilização de determinado tipo de linha elétrica (conduto e condutores). Se isso não for considerado durante a elaboração do projeto e claramente citado na especificação técnica, um risco significativo à segurança será inserido na obra (vício oculto), com assunção de responsabilidades solidárias de projetista, instalador e construtor.

Portanto, na opinião deste autor, considerar as influências externas deve ser a primeira tarefa de um projetista na elaboração de um projeto, e ser realizada antes mesmo da marcação de pontos de utilização em planta, pois pode-se chegar à conclusão que determinados locais do empreendimento, ou não deverão possuir componente elétrico ou, se for imprescindível, o componente deverá ter características específicas.

           Tabela 1 – Presença de água (extrato da tabela 4 da NBR 5410)

Código Classificação Características
AD1 Desprezível A probabilidade de presença de água é remota
AD2 Gotejamento Possibilidade de gotejamento de água na vertical
AD3 Precipitação Possibilidade de chuva caindo em ângulo máximo de 60º com a vertical
AD4 Aspersão Possibilidade de “chuva” de qualquer direção
AD5 Jatos Possibilidade de jatos de água sob pressão, em qualquer direção
AD6 Ondas Possibilidade de ondas de água
AD7 Imersão Possibilidade de imersão em água, parcial ou total, de modo intermitente
AD8 Submersão Submersão total em água, de modo permanente

Tabela 2 – Presença de corpos sólidos (extrato da tabela 5 da NBR 5410)

Código Classificação Características
AE1 Desprezível Ausência de poeira em quantidade apreciável e de corpos estranhos
AE2 Pequenos objetos Presença de corpos sólidos cuja menor dimensão seja igual ou superior a 2,5 mm
AE3 Objetos muito pequenos Presença de corpos sólidos cuja menor dimensão seja igual ou superior a 1 mm
AE4 Poeira leve Presença de leve deposição de poeira
AE5 Poeira moderada Presença de média deposição de poeira
AE6 Poeira intensa Presença de elevada deposição de poeira

NOTA.: Artigo publicado na revista Eletricidade Moderna de jan/2011. A versão ora apresentada possui pequenas modificações.

Autor: Paulo E. Q. M. Barreto

Engenheiro eletricista, membro do CB-03/ABNT, coordenador da Divisão de Instalações Elétricas do Instituto de Engenharia, ex-Conselheiro do Crea-SP, consultor e diretor da Barreto Engenharia. www.barreto.eng.br