
A instalação de aparelhos de ar condicionado em apartamentos e de estações de recarga para veículo elétrico têm sido a demanda da atualidade e um desafio para os condomínios residenciais, por duas razões principais:
- nem sempre se compreende que isso não pode ser uma decisão exclusiva do morador, e
- que é imprescindível uma análise técnica criteriosa e especializada.
Qualquer que seja a necessidade (ar condicionado e recarga de veículo elétrico), ela tem de ser aprovada em assembleia pelos condôminos, uma vez que a instalação de qualquer um desses sistemas influencia significativamente a infraestrutura elétrica da edificação.
Legalmente falando, pelo princípio da isonomia, a instalação de ar condicionado, ou de uma “tomada” (sic) para recarga de veículo elétrico em apenas um apartamento não pode ser decidida isoladamente, já que o aumento de carga indiscriminado afeta toda a edificação. Não apenas no aspecto da segurança, mas também no de continuidade do fornecimento de energia elétrica, já que fusível ou disjuntor poderá atuar intempestivamente e deixar toda a edificação às escuras.
ERROS MAIS COMUNS
- Nova entrada: antes mesmo de realizar uma avaliação criteriosa de um engenheiro eletricista, o condomínio decide (sabe-se lá como) que precisará adequar a entrada de energia e o centro de medição para poder fazer o acréscimo de carga. Esse tipo de reforma custa muito, muito caro. Uma avaliação técnica não custa nem 5% da despesa prevista na (desnecessária) reforma.
- Medir a demanda: boa parte dos prestadores desse tipo de serviço imaginam que instalando um medidor de grandezas elétricas ou de qualidade de energia irão obter a demanda máxima da edificação e com isso poderão definir se há reserva de carga na instalação e concluir sobre a possibilidade ou não do acréscimo de carga desejado. É um grande e perigoso equívoco.
- Avaliação só no apartamento: um morador pede para que um profissional da sua confiança verifique se o apartamento dele comporta a instalação de equipamentos de ar condicionado. Até pode ser que sim, mas essa carga adicional desemboca no centro de medição e na alimentação geral da edificação. Se todos os moradores quiserem fazer a mesma coisa (princípio da isonomia), sem avaliação prévia global da edificação, será um desastre (literalmente).
- Compensação de carga: em algumas situações, o morador alega que como ele não utiliza determinada carga (equipamento) que foi prevista para o apartamento, ele irá substituir essa potência pela potência de aparelhos de ar condicionado. Por exemplo, ele trocou o aquecimento elétrico de chuveiro por aquecedor a gás e imagina que agora ficou com a potência do antigo chuveiro elétrico disponível para o ar condicionado. Ledo engano e um perigo. Não é com “matemática” que se resolve essa questão.
- Tomada para recarga: o morador informa que vai instalar apenas uma “tomadinha” (sic) para recarga de veículo elétrico na vaga dele e que o carregador de bateria é de pequena potência. Outro ledo engano e um enorme perigo para o condomínio. A “tomadinha” pode ser utilizada em casas, mas jamais em edificação coletiva.
- Equalização de propostas: esse é o erro mais comum na contratação de serviços de engenharia. Simplesmente por que não é possível fazer a famosa “equalização de propostas” para então se decidir pela mais barata. Mesmo que se entregue um escopo, preelaborado, para três empresas, o que se obterá são três propostas que utilizarão caminhos diferentes e, portanto, resultados diferentes. Podendo recair nos aspectos negativos aqui abordados. Não há opção melhor do que a indicação feita por alguém que já se utilizou daquele profissional.
RECOMENDAÇÕES
Inicialmente, é imprescindível a contratação de um engenheiro eletricista para realizar uma avaliação global da disponibilidade de carga na edificação, envolvendo: entrada de energia, centro de medição, alimentador dos apartamentos e o acréscimo de carga desejado.
Essa avaliação deve seguir aspectos teóricos e práticos e ainda contar com adequado registro de grandezas elétricas, em pontos estratégicos da instalação elétrica, durante período a ser definido em função das características da edificação e do perfil dos usuários.
A experiência do profissional é vital, uma vez que tais procedimentos não constam de norma, nem de literatura técnica. Também não há receita de bolo. É ele quem terá de decidir sobre os parâmetros a serem utilizados em função de diversos fatores que serão identificados por ele. Cada caso é um caso.
RISCOS FUTUROS
Caso a avaliação não seja feita, ou se o engenheiro não tiver a devida experiência, corre-se os seguintes riscos:
- Enorme despesa com adequações desnecessárias (superior a R$ 300.000,00 por edificação).
- Desligamento de disjuntor ou de fusível da infraestrutura elétrica da edificação (toda ela poderá ficar sem energia elétrica).
- Sobrecargas na instalação por decisões técnicas inadequadas.
- Induzir os moradores à compra de equipamentos inadequados.
- Ter de contratar novo serviço de avaliação.
- Refazer (ou cancelar) tudo o que foi, indevidamente, executado.